DURANTE A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, CARTÓRIO DO RIO DE JANEIRO FAZ CASAMENTO DRIVE-THRU

Mais de 40 uniões foram celebradas de dentro do carro; número de matrimônios cai drasticamente na cidade em abril.
Visto de longe, o casamento de Dejane Monteiro, de 48 anos, e Maurício Patusco, de 42, parecia com qualquer outro. Apreensiva, a noiva vestiu branco e carregou um buquê de flores para a cerimônia, que se não fosse por dois detalhes passaria despercebida: usando máscaras personalizadas, o casal oficializou a união de vinte anos de dentro do carro, em um esquema de drive-thru no cartório de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.
Assim como o casal, que comanda junto um pet shop no bairro, pelo menos outras 40 uniões foram celebradas da mesma forma durante a pandemia do novo coronavírus. Toda a cerimônia acontece com noivos e testemunhas dentro dos carros, enquanto juiz de paz e escrivão ficam do lado de fora.
— Nossa ideia é que, no drive-thru, a celebração seja mais rápida, e as pessoas que tenham urgência consigam ser atendidas — conta a registradora civil Alessandra Lapoente.
O casamento adaptado aos novos tempos precisou ter celebração e comemoração reduzidas, mas não menos animadas. O carro que conduziu os noivos foi decorado pela filha e a nora de Dejane. Além das alianças, o casal encomendou um par de máscaras personalizadas para o grande dia. Com a certidão de casamento nas mãos, os noivos comemoraram em casa ao lado dos filhos e da neta, mas já planejam uma festa para quando a pandemia passar.
— É um misto de realização com um pouco de frustração por não estar com a família e os amigos que sempre presenciaram o nosso companheirismo, porém muito grata por Deus nos permitir casar nesse alvoroço. Queremos fazer um churrasco, abraçar todo mundo, festejar a vida, que é muito importante — diz Dejane.
Ana Carolina Torres, de 17 anos, e o agora marido Melquisedeque Andrade, de 18, deram entrada nos papéis do casamento no fim de janeiro e, com o desenrolar da pandemia do coronavírus, já tinham perdido as esperanças de selar a união como planejado — ainda no primeiro semestre. A surpresa veio com a ligação de uma funcionária do cartório, oferecendo a possibilidade de a cerimônia acontecer dentro do prazo previsto, mas no esquema de drive-thru.
Com lojas de trajes fechadas como parte das medidas de prevenção contra a doença, foi uma maratona para o casal conseguir estar com tudo minimamente pronto e arranjado para o dia do casamento.
— A correria foi para encontrar as roupas. Como que a gente ia se arrumar com as lojas todas fechadas? Por sorte, consegui o vestido numa página de desapego no Facebook — conta.
Além das testemunhas e dos pais do noivo, a cerimônia também foi acompanhada pelos olhos atentos e curiosos da filha do casal, Maria Luísa, de cinco meses. Diferente de Dejane e Maurício, o casamento dos dois foi celebrado na van onde o rapaz trabalha, devidamente decorada com balões de coração.
— Minha cunhada decorou a van toda. Íamos fazer máscaras personalizadas também, mas a senhora que ia fazer para gente acabou pegando o vírus e morreu — lamenta a jovem. — Nossa família é muito grande. O chá de bebê da minha filha precisou ser dividido em quatro para dar conta de todo mundo. Queremos fazer um almoço para comemorar o casamento quando tudo isso passar.
 

Queda no número de matrimônios na cidade

O número de casamentos na cidade do Rio caiu drasticamente durante a pandemia. Em abril do ano passado, foram celebrados 2.096 matrimônios na cidade, enquanto no mesmo período deste ano foram 568. Além da opção de drive-thru oferecida pelo cartório de Santa Cruz, a unidade de registro civil da Ilha do Governador, na Zona Norte, tem realizado as celebrações através de videoconferência.
No cartório, os casamentos acontecem normalmente às quintas-feiras. Só na semana passada, foram 11. A cerimônia acontece na própria unidade. Para utilizar o serviço, só os noivos e as duas testemunhas podem ficar na sala, enquanto o escrevente e a juíza de paz realizam a celebração de outros locais, isolados. A unidade estuda ainda a possibilidade de amigos e parentes dos casais acompanharem o casamento pela internet.
— Nós estamos dando essa solução para que as pessoas não fiquem impedidas de casar. Alguns casais preferem adiar, porque querem casar presencialmente, com amigos e familiares. Mas a maioria tem aceitado bem, gosta da novidade — explica o registrador civil Julio Cesar Macedônio.
 
Fonte: O Globo (13/05/2020)

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