VIJ-DF INTERMEDEIA ADOÇÃO TARDIA NA PANDEMIA

A adoção tardia não é uma constante no panorama das adoções no Brasil, já que a maior parte das famílias se candidata a filhos mais novos. Mesmo com o cenário adverso da pandemia de Covid-19, Vivian Isabelle ganhou uma nova família no ano passado, aos 12 anos. Apesar das incertezas da pandemia, Tatiana Vieira e Fábio Marques tiveram certeza quanto à decisão de adotá-la. A adoção de uma irmã era, há tempo, sonho do filho do casal, Miguel, de 13 anos.
Após resistir ao pedido do filho, a família refletiu sobre a adoção. Com a decisão tomada, procurou a Vara da Infância e da Juventude (VIJ-DF) em dezembro de 2018 para obter informações. Em janeiro de 2019, o casal deu entrada no processo e, em setembro do mesmo ano, estava habilitado a adotar. Abertos à adoção de um pré-adolescente, Tatiana e Fábio foram apresentados à filha em abril de 2020. “No curso de preparação, nos explicaram que quanto mais se ampliasse o perfil, maior seria a possibilidade de o processo ser mais rápido”, lembra Tatiana.
Para tornar o encontro entre pais e irmãos possível em meio à pandemia, uma série de adaptações ao processo de adoção precisou ser feita pela VIJ-DF. Rotinas marcadas pela presença ganharam feições digitais e reforço nos protocolos de segurança. Ao encontrar uma família apta a adotar, a criança ou adolescente inicia a aproximação aos pretendentes por meio do estágio de convivência. Em condições normais, essa primeira fase aconteceria na instituição de acolhimento e em passeios e visitas à casa dos futuros pais.
Por conta da pandemia, o estágio foi adaptado. Inicialmente a família trocou cartas e fotos que evoluíram para chamadas em vídeo. “Ficamos nos reunindo virtualmente com ela por muitos meses. Os vínculos foram sendo criados por ligações, chamadas de vídeos, cartas e mensagens. Foi uma aproximação a distância”, explica Tatiana. Em julho, os pais passaram a visitar a menina na instituição de acolhimento, seguindo os protocolos de segurança exigidos pela pandemia. Seguiram-se saídas durante o dia, visitas à casa da família e as primeiras pernoites. “Era um sofrimento pra ela ter que ir embora, e pra gente maior ainda ter que nos despedir e levá-la de volta. Começamos a ficar bem ansiosos, mas cumprimos as orientações da Vara da Infância”. Em novembro se deu a chegada definitiva da filha à casa.
A mãe conta que, desde a chegada da menina, muitas coisas estão diferentes. “Tudo mudou por aqui: decoração da casa, compras de mercado, horários de acordar e dormir e principalmente os nossos sentimentos”, divide Tatiana. Apesar da ansiedade, Tatiana fala que, após a efetivação da adoção, entende as etapas como necessárias. “À época, achamos o processo um exagero, cansativo. Mas depois que o processo foi concluído, damos um valor muito grande a tudo que a gente viveu”, divide ela.
Entre os pontos mais importantes do processo, Tatiana chama atenção para a desmistificação da adoção. “A equipe trabalhou para colocar nossos pés no chão, foi realista. Parece que adivinham o que vai acontecer. Os pais têm uma visão mais romântica da adoção, mas entre a expectativa e a realidade tem um espaço grande”, explica. Depois de todo o processo, a família não tem dúvidas de que Vivian veio somar. “Estamos muito felizes, somos muito gratos. Nossa família está completa. Se estou arrependida? Sim, de não ter escutado o Miguel lá atrás. De não ter adotado antes. Mas agora entendemos que tudo tem seu tempo e o nosso chegou”, finaliza Tatiana.
Trabalho na pandemia
Apesar da suspensão de atividades presenciais no âmbito do TJDFT, a Seção de Colocação em Família Substituta da VIJ-DF (SEFAM) deu seguimento às suas atividades com auxílio de ferramentas de comunicação. Estudos psicossociais dos processos de adoção e o acompanhamento de estágios de convivência envolvendo adotantes e adotandos foram conduzidos por meio remoto, como no caso de Vivian Isabelle.
O curso de preparação psicossocial e jurídica para adoção, parte do processo de habilitação, foi adaptado para a modalidade on-line e oferecido em novembro e dezembro de 2020, de forma experimental, a 20 famílias. “Os resultados foram excepcionais. Ajustes de natureza técnica e operacional estão sendo feitos para que o curso seja efetivamente oferecido aos jurisdicionados a partir de março”,  explica Walter Gomes, supervisor da SEFAM. Ainda com uso de ferramentas de comunicação remotas, foram conduzidas e registradas no Sistema Nacional de Adoção (SNA) 285 reavaliações de famílias habilitadas.
O acompanhamento psicossocial de gestantes vinculadas ao instituto da entrega voluntária em adoção também continuou. A VIJ-DF mantém o programa voltado a mulheres grávidas que manifestem interesse em entregar o filho em adoção, prestando esclarecimentos jurídicos e psicossociais, a fim de lhes permitir uma decisão devidamente refletida. O atendimento deu-se inicialmente de forma presencial, com agendamento prévio e observância de todos os protocolos sanitários. Após esse acolhimento inicial, o acompanhamento passou para a modalidade on-line por meio de videochamadas. Em 2020, 48 mulheres foram acolhidas e acompanhadas pela VIJ-DF. Do total de atendidas, 14 confirmaram a entrega voluntária em adoção.
Fonte: TJDFT (22/02/2021)

Fale conosco
Send via WhatsApp