COORDENADORIA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE PROMOVE PALESTRA SOBRE ADOÇÃO INTERRACIAL

Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ) promoveu, na última sexta-feira (15), um bate-papo online sobre a importância de se discutir adoção inter-racial com os pretendentes. Foram convidadas ao debate Marianna Muradas, educadora, instrutora GentleBirth e coidealizadora da Formação Doulas de Adoção no Brasil; Marília Alves Facco, psicóloga, doutora em Psicologia da Educação, orientadora educacional, mãe por adoção de gêmeos e estudiosa das relações étnico-raciais; e Marleide Soares, psicóloga, professora da temática do racismo na infância e orientadora de famílias e educadores para o enfrentamento do racismo. O evento foi mediado pelo coordenador da CIJ, desembargador Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, e pelo juiz colaborador da coordenadoria, Samuel Karasin.
A psicóloga Marília Alves Facco falou sobre sua experiência como mãe de crianças negras e a importância do letramento racial durante o processo de adoção e criação dos filhos. “Hoje, se estamos falando dessa questão, é para entendermos nosso papel de pessoas brancas nesse processo, e que essas questões vão afetar nossos filhos”, disse, destacando que o privilegio branco nada mais é do que a ausência da consequência negativa do racismo. “Nós, brancos, nos entendemos como universais, por isso marcamos as pessoas negras, pois elas são os outros. O que podemos fazer? Desenvolver o letramento racial, estudar. Temos que nos desconstruir para uma nova construção. Ler, assistir vídeos, entender conceitos.”
Marleide Soares contou um pouco sobre seu olhar acerca da questão racial na adoção, que começou a partir do trabalho como psicóloga nos serviços de acolhimento institucional, em que acompanhava os pretendentes e as crianças no processo de facilitação. “Não demorei para perceber que a questão racial se apresentava como um fator dificultador. As pessoas sempre tinham muito cuidado para falar sobre qualquer questão relacionada a etnia das crianças”, falou. De acordo com a psicóloga, quando essa criança de pais brancos inicia as relações sociais fora do ambiente familiar, começam as situações de racismo, pois ela irá frequentar locais majoritariamente brancos, especialmente na escola. Por isso, os pais precisam estar atentos para dar suporte. “Existem muitas situações potencialmente traumáticas no ambiente escolar. Por exemplo, na época das festas juninas, é comum a criança preta não encontrar um parzinho, principalmente aquelas adotadas, pois estudam em escolas de pessoas brancas”, exemplificou.
Por fim, Marianna Muradas falou sobre sua atuação como doula de adoção e letramento racial. Para ela, a adoção pode ser a forma mais consciente de se tornar pai e mãe, pois existem muitos processos para que isso se concretize. “Falar de adoção inter-racial é ainda um tabu para algumas famílias em processo de adoção”, disse. “Quando a gente marca, no processo de adoção, que aceita crianças de qualquer etnia, mas não nos preparamos para lidar com o racismo, e não acreditamos que esse racismo existe, precisamos reconhecer que estamos apagando a identidade daquela criança negra, pois o ambiente familiar deve ser um lugar onde ela se sinta com suas origens respeitadas”, concluiu.
Fonte: TJSP (17.10.21)

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